terça-feira, 27 de maio de 2008

Maria da Libertação

Maria de Nazaré, esposa prematura de José, o carpinteiro, aldeã de uma colônia sempre sob suspeita, camponesa anônima de um vale dos Pirineus, rezadora sobressaltada da Lituânia proibida, indiazinha massacrada de El Quiché, favelada do Rio de Janeiro, negra segregada no Apartheid , harijan da Índia, ciganinha do mundo; operária sem classificação, mãe solteira, monja de clausura; menina, noiva, mãe, viúva, mulher.
Cantora da Graça que se oferece aos humildes, porque somente os pequenos sabem acolhê-la; profetisa da Libertação que só os pobres conquistam, porque só os pobres podem ser livres: queremos crescer como tu, queremos orar contigo, queremos cantar o teu mesmo Magnificat.
Ensina-nos a ler a Bíblia — lendo Deus — como teu coração a sabia ler, mas sem a rotina das sinagogas e apesar da hipocrisia dos fariseus.
Ensina-nos a ler a História — lendo Deus, lendo o homem — como a intuía tua fé, sob a indignação de Israel oprimido, diante da ostentação do Império Romano.
Ensina-nos a ler a Vida — lendo Deus, lendo-nos — como a iam descobrindo teus olhos, tuas mãos, tuas dores, tua esperança.
Dom Pedro Casaldáliga

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