terça-feira, 18 de novembro de 2008

Reconhecer Deus no outro

Esta semana é marcada pelo Dia da Consciência Negra, celebrado no dia 20 de novembro de cada ano, aniversário do martírio de Zumbi dos Palmares, líder da resistência e libertação dos escravos, assassinado em 1695 pelos donos de escravos e pelo exército que apoiava os senhores. Infelizmente, a escravidão não é uma monstruosidade do passado, da qual tenhamos conseguido libertar-nos definitivamente.
Atualmente, além da pura e simples servidão que existe em muitos países, somam-se chagas como o mercado florescente de tráfico de órgãos, a venda de crianças, a prostituição infantil, a exploração do trabalho infantil, a mutilação sexual de meninas, o uso de menores em guerras, a escravidão por dívidas e certas práticas coloniais de racismo. O Brasil, onde não temos guerra, continua a aparecer no rol dos muitos países que ainda abrigam casos de escravidão. No campo, mas também em grandes cidades, os órgãos governamentais continuam descobrindo centenas de pessoas sendo escravizadas.
Estas formas de escravidão atual atingem homens e mulheres, tanto negros, como índios e brancos. Entretanto, a maioria das vítimas da escravidão no campo e a maior parte dos mais pobres no Brasil ainda são constituídas pela população negra. Por isso, a comemoração da consciência negra é simbólica e reúne todas estas lutas pacíficas para transformar o mundo.
Nesta semana de união e consciência negra, a história e as expressões atuais das culturas afros nos recordam que para mudar esta realidade é importante uma grande transformação social e política não só nas grandes estruturas da sociedade, mas também nas opções de vida de cada pessoa. Quanto mais nos aproximamos das pessoas, mais nos damos conta das diferenças pessoais e das dificuldades de um diálogo profundo e transparente como caminho de comunhão.
Entretanto, só seremos coerentes com este movimento pela mudança se, em nosso modo de ser, em nossas relações de amizade e de trabalho, conseguirmos libertar o fundo de bondade, perdão e generosidade que existe no mais profundo do nosso ser. Na religião dos Orixás, há um costume significativo: durante o culto, as pessoas que saem da sala, ao se aproximarem da porta, caminham de costas por um momento, até sair, para não dar as costas aos Orixás presentes nas pessoas. É um símbolo para nossas atitudes cotidianas: reconhecermos a presença divina na outra pessoa, mesmo naquela que nos incomoda. Axé! (Que você seja abençoado e receba a energia vital)

(adaptado de texto de Marcelo Barros, monge beneditino e escritor, Goiânia/GO; disponível aqui )

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